segunda-feira, 3 de junho de 2013

As nossas histórias dos livros.

Sempre tive uma relação especial com os livros.

Livros não são aquelas coisas que se usam e metem a um canto depois de usados, como alguns cadernos do liceu ou a roupa que já não nos serve.

Os livros são amigos, companheiros de certas épocas da nossa vida, marcam-nos, moldam-nos a personalidade, orientam os nossos sonhos, os nossos desejos.

De um bom amigo livro, sabemos de cor as passagens. 

Fechamos os olhos e vemos o que vê o autor, claramente, como se tivesse sido uma ideia, um pensamento, saído da nossa cabeça.

Voltamos a estar junto desse amigo de cada vez que lhe tocamos a capa, que folheamos as páginas, sentimos o seu cheiro, de cada vez que cai um papel com um poema ou uma imagem que lá deixámos dentro, há muito tempo atrás.

Há livros que nos acompanham na adolescência, e que depois vemos com outros olhos quando o lemos 10 anos mais tarde.

Há livros que nos estão tão marcados na alma que as suas histórias não são para nós apenas sonhos, mas memórias de outros tempos.

Fez-me uma certa pena ver, nos alfarrabistas da Feira do Livro, alguns dos livros que li na adolescência e dos quais seria impensável livrar-me: os volumes das Brumas, a Casa da Floresta e, sim, uma data deles do Paulo Coelho.

Deu-me a sensação de que os adultos de agora se estão a desfazer das memórias do seu início da juventude, como que se estivessem a atirar para detrás das costas aquilo que foram aprendendo a ser, trocado por coisas que se tornaram mais importantes do que a formação do seu carácter.

As minhas Brumas, arduamente conquistadas, fruto de férias a trabalhar para juntar uns trocos para livros, fruto de buscas por livrarias à procura das velhas edições, estão alinhadas na prateleira.

Volta e meia, dou um salto até aos tempos do Rei Artur e da fantástica Morgaine.

Na noite passada, teria sido possível trazer todos os livros, espalhados por várias bancadas da Feira.

Os do Paulo Coelho, enfim, fiquei com a Brida, que foi oferecida e tem a dedicatória das minhas melhores amigas, os outros já os tinha despachado para o Sr. O Mundo É o Meu Destino E Eu Sou Um Totó, também não se perdeu muito.

Há livros que ainda não foi tempo de ler, há outros que vão ficando na prateleira para se ir lendo, outros que são devorados na altura certa.

Na verdade, seria muito pouco provável desfazer-me de um livro, mandá-lo embora sem lhe dar outra oportunidade, quem sabe esteja à espera desse momento.

A não ser o Lusco Fusco, claro...

(o maior erro livrístico que já cometi, jasuis... o primeiro ainda encaixei, agora os outros... iam para a lareira...)


E aquela camisola de lã das riscas violeta e rosa, das que já temos vergonha de andar com ela na rua, com uma costura rota e um pingo de tinta branca, que continuamos a guardar como o primeiro peluche, com a desculpa do "ah e tal, dá para andar por casa e fazer as limpezas e isso"...

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