segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Atracção pelo Inevitável?

Há coisas que, há exactamente 20 anos atrás, me pareciam impossíveis.
Há coisas que, há exactamente 10 anos atrás, julgava fazerem parte do meu futuro, do caminho que escolhera.
Ao longo destes últimos meses, aprendi que o caminho que escolhemos e construímos pode ser facilmente derrubado por qualquer outra pessoa.
Aprendi que, apesar custar muito e de nos partir a alma e o coração por dentro, temos de escolher caminhar por outra estrada.
Aprendi que há amizades que são tão destrutivas e falsas que aprendemos a dar o maior valor à Amizade que é realmente verdadeira.
Aprendi que não se brinda a essa amizade.
Aprendi que há pessoas que não são nada do que se mostram, seja no bom ou no mau sentido da coisa.
Aprendi que, felizmente, e apesar de nos custar o silêncio, somos facilmente esquecidos, mas que assim acabamos por nos virar para o nosso novo horizonte sem ter desejo de olhar para trás.
Aprendi que não é assim tão difícil apagar números de telemóvel e contactos da internet se já significamos pouco para essas pessoas, e que somos tão virtuais como se não existíssemos realmente, ou como se já estivéssemos mortos.
Aprendi que se pode saber perdoar, mas que não se consegue esquecer.
Aprendi que é impossível desculpar a traição e que, apesar de haver várias definições de traição, cada qual chamada ao caso de acordo com a conveniência de quem o faz, a traição da confiança não precisa de ser efectivamente física para ser quebrada.
Aprendi que, mesmo que não queiramos mal às pessoas, agradecemos apenas que elas não estejam mais na nossa vida, e até lhes fazemos o favor de mudar de cidade, deixar tudo para trás e começar de novo.
Aprendi que o começar de novo é difícil e doloroso, mas que sabe a mel cada momento novo de liberdade e que, apesar desejarmos dar Felicidade e não a aceitarem onde a queríamos dar de alma e coração, há muitos outros lugares que precisam dela.
Aprendi que a luz que temos cá dentro não é a dor que a faz apagar, e que essa luz pode iluminar um pouco o fundo do poço em que estamos, e que nunca, nunca se apaga, apesar de às vezes estar tão escuro que nem a vemos, mas que quando a deixamos crescer, ela consegue iluminar o mundo e fazer-nos soltar as gargalhadas da infância pelas mesmas coisas que nos faziam soltar gargalhadas quando éramos crianças, como a descida de uma ladeira em bicicleta, a aventura, a adrenalina, subir uma árvore, andar de baloiço, uma borboleta a rodopiar à nossa volta, ou os patos no parque.
Aprendi que, às vezes, as coisas têm de se deixar acontecer a seu tempo porque, se não fosse assim, teria sido impossível conhecer a miniatura de gente que me fez ver um pequeno ponto de luz brilhar mais forte e que me fez olhar nessa direcção.
Aprendi que o Amor à primeira vista existe. E que não tem de ser necessariamente entre Homem e Mulher, mas pode ser entre Mãe e Filha, entre amigos de verdade, entre pessoas que dão as mãos.
Aprendi que há sempre mais uma vida a ser salva. Que, muitas vezes, essa vida é a nossa. Mas que para isso temos de salvar outras também.
Aprendi que aquilo que, há 10 anos atrás, eu julgava fazer parte do meu futuro, se desfez, afinal, em cinza, lágrimas e desilusão.
Aprendi que aquilo que, há 20 atrás, eu julgava impossível, se tornou, afinal, inevitável.

Este é o meu novo caminho. O que escolhi.
O que está para trás foi guardado num baú, tal como o rascunho do futuro que tinha escrito antes.



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