quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Não tenho palavras, além das dela.

"Lembro-me de lhe ter dito, Pareces um cisne e ela respondeu a limpar a boca às costas da mão, Sou um cisne. Sou o cisne da história do tio Zebra, aquele que parecia um intruso no meio das aves do lago, um patinho feio cheio de sonhos à espera que lhe caíssem aquelas penas pardas e baças, curioso de saber o que estaria por debaixo. Ainda tenho muitas penas baças, disse ela e sentou-se na borda da mesa de madeira grossa com o pucarinho na mão, arredondou a anca ao inclinar-se para analisar os próprios tornozelos, sem perceber a minha perturbação deslumbrada. Não te vejo nenhuma pena baça, disse eu à falta de melhor, o que eu queria dizer-lhe era Amo-te, desejo-te, morro de cada vez que me olhas, as tuas mãos macias como asas de pena doce despertam em mim o som de mil cordas de violino, ou é o rumor branco do meu sangue a soluçar."
"Os Pássaros de Seda", de Rosa Lobato de Faria.



Que fique a memória e o futuro.
Ela, agora, está onde queria estar.
Ao menos isso.
E nós ficamos tão pobres!

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