da parte de uma pedagoga que se auto-considera anti-pedagógica, nomeadamente por ser da opinião de que as disciplinas “Iniciação ao Sarcasmo” e “Humor Negro Avançado” fazem falta ao nosso currículo do 1º ciclo, quiçá antes, até.
Os miúdos andam esquisitos.
Os pais também.
E os professores também, há que ser frontal!
Esta semana, aqui na zona, um puto de 14 anos, aluno do 6º ano, suicidou-se num guarda-fato com um cachecol porque teve nega a Inglês e os pais lhe cortaram telemóvel, net e saídas à noite até ao final do ano lectivo. Daqui a 15 dias.
Culpa.
Responsabilidades.
São logo as palavras que saltam.
A culpa terá de ser de alguém.
O malvado professor de Inglês que ofereceu uma negativa?
Porquê? Se o miúdo não apresentava resultados, será justo dar-lhe uma nota só para passar, quando outros mostram algum esforço?
Os diabólicos pais que privaram o infeliz adolescente do telemóvel, da internet e das saídas à noite com os amigos?
Como seria possível sobreviver sem isso??
Será a sociedade que, cada vez mais, incita as pessoas que as coisas se conseguem sem esforço, e que por isso qualquer contrariedade deve causar desgosto?
A geração de onde venho, menos do que a anterior, sofreu contrariedades.
Trepávamos a árvores e caíamos. Era um risco, e nós – conscientemente ou não… - sabíamos disso. Podiamos partir a cabeça, um braço, uma perna, esfolar a coxa toda, mas aguentávamos as consequências dos nossos actos.
Nos dias de hoje, seria a autarquia, porque deveria ser obrigatório a árvore ter um sinal a indicar que subir era perigoso.
Havia o puto gordo, o dos óculos, o parvinho, a trinca-espinhas. Sobrevivemos.
Nos dias de hoje, são referenciados.
Quase todos sofrem de hiperactividade, quando na realidade têm actividades físicas a menos, carradas de açúcar no sangue e horas a mais dentro da escola porque os pais não os podem ter em casa.
Numa das minhas turmas há um puto – como muitos que já toda a gente conheceu – que passa a vida com a cabeça na lua. Mas apanha tudo. Esperto como uma raposa! Mas cheio de moleza… Numa conversa com a professora titular, um dia destes, a mesma diz que a criança está a ser avaliada por um especialista. O J. L. tem 7 anos. Em tom de brincadeira, teacher diz que J. L. deve ter apenas temperamento de artista. A professora I. olha para teacher com uma nítida expressão “teacher-precisa-também-de-aconselhamento-psiquiátrico”.
Noutra sala, a Professora M., preocupada, manda recado na caderneta à mãe do R. S., a informar que o menino não come ao almoço, e só quer lanchar o bolicao/kinder/chipicao que traz para o lanche.
A mãe do R. S., indignadíssima com o atrevimento da pessoa que acompanha o seu infante desde as 8. 30h da manhã até às 19h da noite, informa que o menino não gosta de carne, não gosta de peixe, não gosta de verduras, não gosta de massas, não gosta de arroz, não gosta de fruta e que a única coisa que come bem é o bolicao e o leite com chocolate.
Ponto final no assunto.
Este ano lectivo, surgiram na escola dois casos de Diabetes tipo 1.
Se calhar, devíamos afixar isto na porta.
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