Todos os trabalhos têm o seu senão, e o do meu trabalho é este:
ter de gramar com gente estúpida e mal-educada.
Tal como o de meio mundo, bem vistas as coisas, enquanto o outro meio mundo está a ser estúpido e mal-educado para os outros desgraçados.
Ora a gente tem uns certos parâmetros da casa que tem de seguir.
Como somos empregados, temos de comer e calar, e obedecer às regras do patrão e do sistema.
Nada de muito complicado.
O trabalho consiste num serviço de apoio ao cliente numa empresa que vende promoções na internet.
Aqui é que complica.
Se a pessoa sabe mexer bem naquilo, cinco estrelas, a coisa faz-se bem.
Quando a pessoa não percebe muito, o nosso serviço, na maioria das vezes, consegue ajudar.
De referir que somos 8 alminhas, meio esgrouviados, é certo, mas todos boas pessoas, bem divertidos e genuinamente bem intencionados.
Ora confesso que, por minha parte, às vezes, uma pessoa pode contactar por mail ou por telefone e estar um bocado enrascada e, se puder, dou umas voltas meio doidas no sistema, perco mais tempo, mas dedico-me a ajudar a pessoa, o problema fica resolvido, o cliente fica contente, a menina do blog fica contente, e é uma alegria para toda a gente.
É verdade, ralho muito para o computador quando apanho as calinadas ortográficas, mas às tantas já nem me incomodo, e até me dá para rir.
Também nos rimos muito quando aparecem uns endereços de email engraçados, tipo sunset goddess, pocahontas ou crica, ou quando o senhor nos liga a saber quando é qua mandamos o presunto (não mandamos...) ou se as facas ainda chegam a tempo de trinchar o peru no Natal.
Mas também sou humana e, garanto, tenho pavio curto para más-educações.
E sei que são sapos que tenho de engolir, é uma fatalidade.
Faz parte da formação, e esta semana tem estado em alta.
No fim da semana passada gramei com a senhora dos relógios.
Pediu a devolução dos 3 relógios que tinha comprado e foi feito crédito, porque passava da data em que estamos autorizados a dar dinheiro.
Embicou que queria em dinheiro, que já não ia lá comprar mais nada e renhónhó e renhónhó.
Telefonou, escreveu, escreveu, telefonou.
Às tantas, descaiu-se, e disse que, afinal, tinha recebido dois relógios.
Depois de tanto moer, a "chefe" disse: "Porra, dá lá mas é o dinheiro à mulher!"
Ok! Menina do blog pega no mail, faz a excell da anulação, e lá vai disto!
Dois minutos depois, sai-se a chefe com o "Olha, isto foi pago com crédito, não se pode dar em dinheiro!"
Resultado, se estivesse caladinha, ficava com o crédito dos 3 relógios.
Armou-se em carapau de corrida, a destratar as pessoas, a ameaçar com a Deco e o Belzebu, já ninguém podia ouvir falar na porra da mulher sem ficar com uma certa azia... e acabou por ficar com crédito na mesma, mas só de um relógio.
Juro, não tive pena nenhuma.
Segunda-feira, o João Carlos Xavier anónimo do facebook, que sabe ameaçar que vai colocar o nome dos assistentes do apoio ao cliente na página, a dizer que são todos uma cambada de incompetentes que lhe dão respostas já feitas, mas que se esquece de um pormenor:
Camafeu, se tu vais ao facebook anónimamente, passo a informar-te: a Marta do apoio ao cliente tem um blog!!
E adivinha quem manda?
Olarila!!
Fica a saber que, aqui, posso também dizer que, das 6 encomendas que fizeste, em todas, TODAS!! armaste o barraco e disseste que seria a última vez que lá compravas!
E em NENHUMA delas tinhas razão!!
Pedir a devolução de uma oferta que já utilizaste? Não podes! E os outros são incompetentes porquê?
Recusares-te a preencher o formulário porque tinhas de colocar o telefone e a morada, e não queres dar dados pessoais? E entrega-se a encomenda onde?
Digo-vos, a criatura foi tão desagradável, foi mal-educada comigo e com mais dois colegas, até me senti doente!
Sabem quando estão muito bem na vossa vidinha, a pensar que têm de comprar ovos, ou que andam há que tempos para mudar a sardinheira de vaso, e vem de encontro a vocês uma pessoa frustrada e de mal com a vida dela, que se limita a ser gratuitamente mal-educada com um perfeito desconhecido?
Este era desses.
Mas, depois, respiro fundo, respiro fundo outra vez, e penso:
ninguém melhor do que eu própria para saber se estou a fazer bem o meu trabalho ou não.
E estou.
Qualquer dúvida, pergunto à chefe, e ela diz-me o mesmo.
Por isso, não há-de ser este idiota que o há-de saber!
Hoje, calhou uma gaija com nome de uma actriz da tvi que enjoa de sonsinha e que não vou citar, coitada, não tem culpa de ter ar de quem anda a comer limão, que moeu tanto, mas tanto, mas tanto, e sem razão, que a minha colega foi obrigada a dar a porra do dinheiro de volta, quando devia era ter recebido, no mínimo, um pedido de desculpas de por a ter aturado!
Tudo porque a senhora não estava com pachorra para meter o cu no elétrico e ir passear para Alcântara e ficou aborrecida porque o cabeleireiro ao pé de casa teve um curto-circuito antes de ela lá ir!
Minha senhora, espero que o próximo tenha um curto circuito quando a senhora estiver sentada ao secador,que é para lhe fºd&r a porra do cabelo todo e ficar a tresandar a courato durante meses!
Por isso, meninos, aprendam a lição, que é de valor:
As pessoas que trabalham apreciam boa educação.
Se estão a pensar ser estúpidos, a primeira coisa que perdem é a razão, e logo a seguir, as boas graças de quem os está a atender que, informo, caso não saibam, está a fazer o seu trabalho o melhor que pode e que lhe deixam.
Pelo menos na maior parte dos casos, e neste departamento é assim.
(prontes, aqui a je já se sente melhor, mais aleviada, agora imaginem naquele sítio, com duas malucas dos nortes, outros com ar de quem não parte um prato mas que são levados da breca, e muito palavrão à mistura... as orelhas destes pacóvios devem estar a arder até agora, cªbrõ&s dum raio!!)
Até me benzo de pensar o que é que pode calhar amanhã, mas a gente ganha calo com isto, ó se ganha!!
4 comentários:
Ai, como eu te compreendo tão bem. Já trabalhei num Call center e apanhava cada mal educado, e muitos com grandes estudos, parati patati, e afinal eram uns mal educados, pessoas de mal com a vida que não tem onde descarregar e que acham que apenas servimos para aturar as frustações delas, tinha que comer e calar como tu dizes, mas dava-me cá umas ganas.
Comecei a perceber que as pessoas podem ser muito desagradáveis quando uma vez um funcionário de um call center me agradeceu por ser tão simpática. Coitado, o que ele teria ouvido para achar que tinha de me agradecer semelhante coisa.
Há que levar na boa, até damos umas gargalhadas com o senhor que "estou muito chateado porque mandei vir uma esfregona h2o e recebi uma sabrina eléctrica!"
Ai mulher, é preciso pachorra...
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