quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

O português comum e a sua entremeada.

O português é uma criatura bem agarrada aos seus hábitos e tradições, seja a boa gastronomia, seja o arreigado hábito de gostar dos feriados mais para poder ir até à praia do que pela celebração em si.

 Uma vez disseram, e com razão, que as alforrecas, sendo venenosas, não têm predadores naturais, mas que caso dessem à costa portuguesa, isso acabava, porque havia de aparecer alguém com azeite, coentros e uns dentes de alho que descobria logo uma maneira de a cozinhar, e lá se acabava o topo da cadeia alimentar.

Os portugueses são típicos, dessa maneira: tudo se pode cozinhar, e podemos fazer um bom petisco a partir de qualquer coisa.

Bem podem vir cá de qualquer religião do mundo que seja, que não hão-de conseguir tirar aos portugueses o hábito e o gostinho de comer uma bela entremeada na brasa num dia de Verão, uma costeleta com osso para agarrar com as mãos e regalar-se a roe-lo, um lombo de carne assada pela mãe com cenouras tão no ponto que se derretem na boca e um molho saboroso onde afogar o pão caseiro, já para não falar em febras e bifanas em dia de feira.

Não, não estou a ver virem para cá com uma religião que nos sugira dispensar a carne de porco.

A não ser que se tornem vegetarianos por amor aos animais.

Também somos assim.

De pouco nos vale preocupar com isso, agora, somos um povo brando e tranquilo, e as páginas dos jornais já estão cheias de Cristianos Ronaldos e botas de ouro e gritos de guerra que ninguém percebe muito bem, as emissões de rádio já estão cheias de música alusiva a essa novidade mais fresca e agradável, já quase ninguém fala do Charlie, passando o horror momentâneo que foi ver imagens de dois doidos com armas grandes a executar várias pessoas em plena luz do dia, por motivos que, a nós, povo maioritariamente tranquilo, nos parecem absurdos.

Estes tópicos, a nosso ver, seriam mais feitos para uma conversa séria entre pessoas ponderadas, em volta de uma boa mesa de refeição, do que desculpa para guerras, mas isso somos nós.

A não ser que se pense que esta confusão toda foi por causa de uns senhores muçulmanos que não gostavam da banda desenhada do Charlie Brown, e aí já ficamos algo pasmos e completamente sem argumentos.



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