quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

Os animais da minha vida. Parte 1: os cães.

Lá em casa, por mor do Sr Abel, meu avô, ser caçador, havia sempre cãompanheiros de brincadeira.

Caçador, neste sentido: na época de caça ao coelho, ti Abel levantava-se de madrugada, noite escura (agora tem 80 anos, já não anda nessa vida), para ir com os cães para o monte, todos os domingos e algumas quintas-feiras. Isto durava de Outubro a Dezembro.

No resto do ano, fazia a mesma coisa, com a desculpa de que era para treinar os bichitos.

Mais tarde, percebemos que era para descansar da minha avó, senhora Dona Amélia.

Isto porque, de Outubro a Dezembro, aos domingos e algumas quintas-feiras, quando o ti Abel chegava a casa ao final do dia, novamente noite escura (também não era preciso muito, às 6 horas já era noite...), Maria Amélia ralava-lhe o juizo em duas, e apenas duas, situações:

a) se trouxesse coelhos (mortos, enfim...): "Olha-me pra isto, só me trazes é trabalho, agora é mais coelhos para esfolar, não tenho mais nada que fazer!"

b) se não trouxesse nada: "Olha-me pra isto, o dia todo fora de casa e nem um coelhinho para o jantar!"

De referir que a senhora Dona Amélia era (já não tem pedalada, a idade, e tal e coiso) exímia cozinheira de coelho guisado à caçador, especialidade da zona da Ventosa, sua terra de origem, sendo até conhecida lá na vila (agora cidade) por levar um coelhito pelo Natal, em jeito de agradecimento,  ao médico, ou ao senhor do banco, ou ao farmacêutico, ou a algum vizinho.

De referir também que faz parte da minha formação saber esfolar coelhos e cozinhar coelho guisado à caçador, se bem que não consiga comer o coelho que estive a preparar...

Mas voltando aos canídeos!

Lá em casa, havia a tradição de os cães seguintes herdarem o nome de outros cães que haviam feito parte da família, nomeadamente: Vidinhas, Pirolito, Boneca e, quando éramos miúdos, a Carrucha, a alteração criativa do nome que tínhamos dado a uma nova cadelita, inspirado nos nossos livros de escola, e que era Pituxa, uma Tess que me deram nos anos, e que ficou Tessa e um Farrusco, que era irmão da nossa Carrucha e ficou com a nossa tia-avó, MariRosa.

A minha avó gaba-se de ter ensinado a Carrucha a dançar, e o que é certo é que a sacana da bicha saltaricava com as patas de trás, abanicava as patas da frente e fazia uma festarola quando a Maria Amélia vinha ter com ela!

Ainda hoje nos podemos referir a várias e diferentes gerações de Vidinhas, sem que haja confusão nas histórias, porque todos os Vidinhas da família deixaram as suas marcas na nossa memória.

O Pirolito era o meu preferido, e o mais idoso, quando eu era miúda, além de ser também o mais pachorrento e meloso.

Morreram todos de velhotes.

(Tirando um Vidinhas que morreu atropelado quando a minha mãe tinha 7 anos, numa estrada onde não passavam carros nenhuns, e que ainda hoje a minha mãe chora, porque ela estava de um lado da estrada, o meu tio estava do outro, os dois mandaram o bichito sair de lá e o palerma não se decidiu a tempo. Também a aventesma do condutor devia estar a olhar para o que fazia, iztúpido!)

Este parolo aqui aos saltos é o mais recente Vidinhas, aqui quando ainda era pequenito, mas igualmente totó.

Já não dá pelo nome de Vidinhas, apesar de toda a gente o chamar assim, porque a Dona Amélia, num dos seus acessos criativos, apelidou-o de Bolinhas (ele é uma pequena vaca...), e o sacana só responde por esse nome.

Além dos nossos cãopanheiros, passámos a infância a brincar com uma miniatura de canídeo dos vizinhos do lado, a Dona Adelaide e o Sr Raúl, que dava pelo nome de Andorinha.

Isto durou anos. Tipo, mais anos do que é normal um cão durar.

Depois, percebemos que a Dona Adelaide era adepta acérrima da modalidade "quando morre um cão, arranja-se outro igual e dá-se o mesmo nome".

Pelos vistos, conhecemos umas quantas sequências de Andorinhas...



Sem comentários: